quarta-feira, 5 de março de 2014

007: Cara, Eek! The Cat era muuuito bom.



Um dos conteúdos que mais apreciei durante minha infância. Sempre gostei de séries feitas em animação, mas não eram muitas as que me motivavam a acordar bem cedo e ligar o televisor e que me causavam frio na barriga do tipo "Senta, que lá vem a história!" por esperar ansioso. Eek! The Cat surgiu em um grande momento das manhãs no qual a saudosa TV Colosso tinha Homem-Aranha, X-Men, Capitão Planeta, He-Man, Caverna do Dragão... como algumas das atrações fixas. 

Um gatinho azul atrapalhado que namorava uma gatona rosa (Ana Bella) e tentava lidar com a doçura quase sufocante desta e o temperamento instável de um cachorro de estimação com estética e nome de tubarão (Sharky) e personalidade de sogro. Um ponto de partida super simples, com uma bela dose de paródia. Mas eu me divertia e me encantava principalmente com todas as situações desastrosas que Eek vivia e a maneira como ele reagia com legítimos porém quase fingidos bom humor e pensamento positivo. Os coadjuvantes – boa parte composta por amigos – eram verdadeiros malas, tudo tinha jeito de dar errado desde o princípio... mas o pequeno herói sempre relevava e dizia "Ajudar não dói!" – frase que era o besouro-suco do personagem. 

Vez ou outra, antes de Eek, uma produção sensacional surgia na tela: The Terrible Thunderlizards, mega crítica envolvendo o imperialismo e as invenções que marcaram a História, sob uma roupagem de milicos dinossauros estúpidos caçando uma dupla de homenzinhos das cavernas. Um dos rapazes só queria comer e sobreviver, enquanto o outro era um gênio que passava o tempo a elaborar e nomear criações diversas e "INÚTEIS!" como escada rolante, relógioroda, elevador, avião..

Eu devia ter 8 ou 9 anos e a noção de ironia ainda não tão bem estabelecida, mas nada disso me impedia de rir e aproveitar. O trabalho do dublador Guilherme Briggs foi excepcional na voz do protagonista, com alguns maneirismos à la Freakazoid, a ponto de que eu sempre lembro desse grande profissional principalmente por isso. 

Em algum momento, após a última exibição, Eek! The Cat se perdeu no tempo, foi esquecido no Brasil, jamais ganhou uma versão home video. É um dos meus maiores pesares não achar nenhum episódio sequer, ao menos para baixar, desde que comecei a usar regularmente internet e a comprar dvds. Mas o desenho também chegou a sofrer lá fora, a ser cancelado e passar por uma reformulação (chamada Eek! Stravaganza) – talvez por ser ácido sobre valores morais, por colocar lupas em hipocrisias... por discutir a grande bomba que é a sociedade em geral, embora permanecesse infanto-juvenil –, o que ameniza meu sofrimento por saber que as dificuldades não são apenas daqui, que, de fato, eu não estou sozinho.

Nas décadas de 1980 e 1990 existiram o Cinema em Casa e uma Sessão da Tarde não muito indicados para garotinhos e garotinhas, com violência muitas vezes brutal (RoboCop) ou seios "Supresa!" (Quase Igual Aos Outros) em qualquer filme, a qualquer momento. As gratuidades da busca pela audiência existiam, sim, mas em consequência éramos servidos de um conteúdo mais corajoso, genuíno, astuto, vivo, que ia além dos bebês geniais e dos pets falantes, além dos filmes de baixo orçamento da Disney e dos cortes grotescos a fim de proteger a Família. Tínhamos uma programação que divertia e abria as portas da percepção.

Foi com Indiana Jones que me encantei pelo desbravamento e por História; com De Volta Para O Futuro que me fascinei com as abrangências do Cinema e da Ciência; com Os Aventureiros do Bairro Proibido, Edward Mãos-de-Tesoura e Os Garotos Perdidos que me apaixonei pela Fantasia; com O Jardim Secreto e A História Sem Fim que me deixei fisgar pela Literatura; com Howard: O Super-Herói, com o apocalíptico Double Dragon e o clássico Eddie Murphy que chorei de rir; com Mundo Proibido e Uma Cilada Para Roger Rabbit que enxerguei melhor as características técnicas e as inúmeras possibilidades narrativas da arte dos desenhos; com as obras de John Hughes e daqueles que as copiavam que compreendi o meu mundo pré-adolescente e até me preparei para o futuro. Eek! The Cat fez parte desses chutes, desse conjunto de estímulos a buscar e ter mais de um olhar e a ter pensamentos fora da caixa... parte de um convite à autenticidade, à criatividade e à reflexão. 

Sobretudo, desse tempo e do meu baixinho azarado favorito eu sinto muita saudade.


The Terrible Thunderlizards (por Xpendable)

              

Nenhum comentário:

Postar um comentário